Vinte e cinco anos depois
O ano era 2000 e a gente tinha sobrevivido aquela pataquada que foi o bug do milênio. Eu embarcava para viver o sonho do intercâmbio, que foi conquistado de forma totalmente aleatória, porque minha mãe, cansada das minhas negociações a respeito desse assunto, disse que se eu passasse na UFPE ( a Universidade Federal de Pernambuco) me daria a bendita viagem. Ela, vendo a minha dedicação a todos os compromissos sociais e etílicos do terceiro ano, não acreditou que seria possível que eu cumprisse minha parte da promessa. Porém, se viu sem escapatória quando da redação do jornal, ela me ligou para dizer que eu, quem diria, havia passado no curso de design. Eram 30 vagas e eu fiquei com a trigésima, comprovando que Deus é brasileiro e que uma boa redação pode mudar o destino das pessoas.
Matrícula feita, curso trancado, lá fui eu para a Inglaterra. O objetivo era consolidar o inglês e fazer uma prova de proficiência na língua. O dinheiro era curto e o nosso acordo era que eu ficaria fora por três meses. Embarquei sem cartão de crédito e com 300 libras no bolso, que era o que minha mãe tinha para me dar. Curso e hospedagem pagos, essa grana era para alimentação e qualquer outro gasto que eu quisesse fazer. Mas assim que eu pisei naquele país fiz duas contas rápidas e entendi que o valor que tinha recebido, não ia dar para nada então, só me restava trabalhar. Dessa forma, três meses viraram 7, porque eu não só trabalhei, como por ser a melhor aluna daquele trimestre, ganhei uma bolsa para ficar mais tempo. Juntei uns euros, mochilei pela europa com umas amigas e ainda encontrei com Peu (e a namorada dele da época), que estavam morando em Barcelona. Essa parte da história é melhor contada por ele, mas vou deixar isso para outro dia, porque o foco da carta dessa semana não é esse.
A minha volta, em agosto de 2000, foi um marco importante, porque eu me sentia muito adulta. Tinha conseguido comprar um carrinho velho pra mim com uma grana que trouxe e arrumei um emprego como professora de inglês. Eu era dona da minha vida, do meu tempo e nada podia me parar.
Mas a mudança mais radical vinha da faculdade. Eu estava encantada com aquele universo, com a diversidade de pessoas, com as possibilidades, com a arquitetura do prédio, com a liberdade e com os barzinhos ao redor da instituição. Tudo ali era inspirador e diferente, porque eu vinha de escola particular: mamãe deixando na porta, papel higiênico no banheiro, material entregue na mão, professor que nunca faltava e um controle rígido com a vida escolar.
Estar numa federal era o oposto disso e ali, o mundo meio que se apresentou para mim.
O que eu não sabia era que 25 anos depois eu viveria esse entusiasmo novamente, de um jeito totalmente diferente.
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