Família é assunto sério
Uma conversa com meu filho mais velho me fez pensar que discordar é como ter uma caneta para reeditar nossos mapas familiares.
Durante um tempo, eu achei que meu trabalho era um grande acontecimento, uma vocação mesmo. Sentia que finalmente tinha encontrado o meu propósito e essa era a razão de gostar tanto do que fazia. Um pensamento quase meritocrático, se a gente for pensar bem. Até que uma amiga querida e bruxona (vocês têm amigas assim? Tem que ter, viu?) me disse que não escolhemos nosso profissional por aquilo que nos transborda e nem por uma afinidade fantástica com algo. Nossa escolha profissional não tem a ver necessariamente com um talento nato ou com a bendita vocação.
Para ela, o caminho do trabalho está relacionado com a falta, com a sombra, com o não resolvido nas nossas famílias. E quando a gente olha a origem da palavra trabalho - eu amo voltar nessa linha do tempo que estica até o começo de tudo - vamos ver que ela deriva do lantim e vem de tripalium, um objeto de tortura que deixava o cidadão pendurado (!). Ou seja: trabalho não é exatamente um negócio agradável ou prazeroso e ainda assim, aqui estamos nós, tentando lidar com esse mal necessário, tentando encontrar um mínimo de tesão, satisfação, razão, para não adoecer, já que ninguém é herdeiro, certo?
Quando minha amiga me trouxe essa versão da história sobre trabalho, confesso que fiquei inconformada e aí, bateu doeu, pega que é teu, eu levei essa história para terapia, que por outros caminhos, me fez pensar por que eu tinha escolhido trabalhar com famílias.
Não era porque a minha família era perfeita.
Não era porque eu vinha de uma família perfeita.
Não era porque eu acredito que existam famílias perfeitas.
Era porque eu tinha e tenho minhas rachaduras.
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