Dor de crescimento
Sempre digo que ver filho crescer é um privilégio. O que não quer dizer que seja fácil ou vivido sem dor.
Marília Mendonça tem uma música em que ela diz: ninguém vai sofrer sozinho, todo mundo vai sofrer. Confesso que quando essa música toca, eu canto a plenos pulmões, porque tem uma sabedoria nessa equação, que nos convida a encarar algo que é inerente a vida: o danado do sofrimento. Marília canta sobre as relações amorosas, mas a gente pode expandir esse conceito e pensar que sofrer junto, coletivamente, pode transformar tudo. E não é que faz a dor passar. Esquece isso! Para a dor passar não tem receita. A partilha da dor é apenas uma forma de aliviá-la, de deixá-la mais possível de ser atravessada. Se a gente for pensar, a arte é exatamente isso: o artista sente algo que ele acredita que seja só dele, mas quando ele transforma isso em quadro, instalação, performance, música, cinema, grafite, ele nos dá a permissão para sentir junto e ser atravessada pelo que ele sente. Quando isso acontece, eu posso perceber que eu também sinto aquilo, ou já senti, ou quero sentir, ou nunca senti e nem quero, mas eu vejo que ele sente. Afff isso é bonito demais, gente!
Pois bem. Eu hoje tenho uma dor para partilhar com vcs. Uma dor que não está latente, mas que de vez em quando chega perto, toma meu corpo, aperta o peito, tira meu sono. Uma dor ambivalente, porque em alguns momentos ela pode até ser boa, se é que isso é possível. Hoje eu trago aqui a dor de ver minha filha crescer.