A cara nova da Anitta e as espinhas da minha filha
O que uma coisa tem a ver com a outra e como a gente tá na lama com esse ideal surreal de beleza.
O nome dela era Patrícia Teixeira, e essa menina aterrorizou minha adolescência. Óbvio que ela não sabe disso, e a coitada nunca fez nada na minha direção, que fique claro. Minha questão com ela era só minha mesmo e tinha a ver com uma certa inveja, ou uma enorme admiração, melhor dizendo. Patrícia era a menina mais bonita da zona norte, na minha opinião. E sempre que a gente se esbarrava nos eventos e festinhas da cidade, eu me sentia levemente humilhada. Lembro de um dia em especial e vou narrar para vocês. Por favor, leiam como se estivessem vendo um filme:
Aglomeração, madrugada, fim de carnaval, também conhecido como dispersão. Hora de encontrar os amigos que se perderam no percurso, entrar um pouquinho no bloco para o qual você não tinha o abadá, só para ouvir a última música, ver quem tinha beijado quem. Você e sua melhor amiga tentam se ajeitar, arrumar minimamente a cara levemente desconfigurada pelo suor, pelo bloco em si, pelo álcool e pelas drogas, mas não têm muito sucesso. Afinal de contas, foram cinco horas de axé na avenida. O ano era 1995, e esse era o último dia de Recifolia.
De repente, na contramão, saindo do fuzuê e se distanciando da multidão, lá vem ela: Patrícia. Os postes iluminavam seus passos, e quem estava lá viu que tinham ventiladores direcionados para ela. O cabelo estava intacto, sem nenhum frizz. O rímel impecável, o blush nas maçãs do rosto, o abadá sem amassados. Ela caminhava e ria. Aliás, ela estava sempre rindo. A danada era simpática, tenho que admitir.
Eu vejo tudo isso em câmera lenta e penso: como é possível? Como ela consegue? Por que eu estou derrotada e ela parece que acabou de chegar?
Que ódio.
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