Ela tá de desfrute.
Desfrutar é verbo transitivo direto, que entre outras coisas, significa fazer uso de vantagens. Essa palavra pode carregar uma conotação positiva ou negativa, a depender de suas memórias afetivas. Eu lembro da minha avó falando em tom pejorativo, geralmente sobre outras mulheres, que elas estavam de desfrute por ai. E apesar de não saber exatamente o que aquilo queria dizer, a cadência da sua voz deixava claro que não era algo bom ou correto e eu, como boa neta que era, não deveria desfrutar de nada. Não lembro se ela carregava nas tintas para falar sobre o desfrute masculino, mas penso que não, afinal, as questões de gênero sempre existiram, a gente é que não as nomeava dessa forma. Para minha avó, quem não podia desfrutar da vida eram as mulheres, mas os homens estavam liberados.
Não sei se você sabe, mas é assim que são formadas as verdades e crenças que carregamos vida a fora. De um jeito despretencioso, diluido na correria do dia -a-dia, sem saber nem o por quê, introjetamos falas e comportamentos familiares, que se tornam vozes internas que nos regulam. Algozes que nos prendem em gaiolas imaginárias e que nos mantém numa obediência cega, numa eterna busca por pertencer, ser vista e claro, amada. Seguimos por esse caminho sem pensar muito, apenas porque sim, até que alguma coisa ou alguém nos confronta com outras possibilidades. Bifurcações na nossa estrada, hora de escolher novas rotas. Mas e o medo?
Silenciar essas vozes é trabalho de gente grande. Demanda tempo, energia e dinheiro para terapia, retiro, ayahuasca e todas essas coisas que a gente faz na eterna busca pela cura ou por essas novas rotas na nossa propria estrada. Ou seja: não é simples.
Mas é possível.
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