Do que você se arrepende?
Outro dia estava ouvindo a Brené Brown falar sobre arrependimento. E ela comentava que desconfia de gente que afirma não carregar esse sentimento. Ela dizia que achava muito estranho você olhar para sua vida e dentro daquilo que está sob nosso controle - ou seja, aquilo que falamos e como nos comportamos, não encontrar nada que hoje seria vivido de uma outra forma. Momentos em que fomos perfeitos idiotas, sabe? E que esse arrependimento, na verdade, diz sobre uma evolução ou habilidades adquiridas justamente pelo passar do tempo por nós. Ter arrependimento ou sentir arrependimento não deve ser uma bola de ferro amarrada aos nossos pés, pelo contrário. O arrependimento é aquela cicatriz que a criança mostra orgulhosa, porque ela carrega uma boa história sobre uma aventura vivida.
O arrependimento vem com o movimento que a vida faz, nos levando de um lugar para o outro, mostrando que aquilo que está parado, não tem vida. E que nossas certezas precisam de flexibilidade para caber na dinâmica que se apresenta. Viver arrependido, por sua vez, é outra coisa. É como não ocupar um espaço com a nossa existência, ficar vagando igual fantasma, sem conseguir segurar em nada e achar que sempre poderia existir outra alternativa melhor, mais correta e acertada. Quem vive arrependido não confia no invisível e nem no fluxo natural que a vida apresenta, todos os dias. Isso sim é um aprisionamento.
Quando escutei tudo isso, pensei nos meus arrependimentos, porque em algum lugar dentro de mim, sustentava um certo orgulho da minha pouca hesitação diante da vida. Sempre fui muito dona do meu nariz, muito "cavalo do cão"- expressão da minha terra, para falar sobre gente danada, destemida, que enfrenta as coisas sem medo. E olhar para meus arrependimentos seria como recontar algo sobre mim, inaugurar uma ala nova, desconhecida.
Será?
Bom, minha falta de medo não pode servir apenas para dragões externos, né? Tem que servir para encarar os dragões de dentro também. E lá fui eu, revisitar o que eu sabia sobre mim, as maneiras como eu conto minhas histórias. O que ali precisava de um olhar mais generoso? O que ali podia ser um convite para que eu percebesse mudanças e transformações?
Fui tateando, até que cheguei num lugar.
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